30 de agosto de 2011

VIAJAR PELA LEITURA

Viajar pela leitura
sem rumo, sem intenção.
Só para viver a aventura
que é ter um livro nas mãos.
É uma pena que só saiba disso
quem gosta de ler.
Experimente!
Assim sem compromisso,
você vai me entender.
Mergulhe de cabeça
na imaginação!




Clarice Pacheco





28 de agosto de 2011

PROFISSÃO MÃE

Uma mulher chamada Anne foi renovar a sua carta de condução.

Pediram-lhe para informar qual era a sua profissão. Ela hesitou, sem saber bem como se classificar.

- "O que eu pergunto é se tem um trabalho", insistiu o funcionário.

- "Claro que tenho um trabalho", exclamou Anne. "Sou mãe."

- "Nós não consideramos 'mãe' um trabalho. 'Dona de casa' dá para isso", disse o funcionário friamente.

Não voltei a lembrar-me desta história até o dia em que me encontrei em situação idêntica.

A pessoa que me atendeu era obviamente uma funcionária de carreira, segura, eficiente, dona de um título sonante, do género 'oficial inquiridor'.

- "Qual é a sua ocupação?" perguntou.

Não sei o que me fez dizer isto; as palavras simplesmente saltaram-me da boca para fora:

- "Sou Pesquisadora Associada no Campo do Desenvolvimento Infantil e das Relações Humanas."

A funcionária fez uma pausa, a caneta de tinta permanente a apontar para o ar, e olhou-me como quem diz que não ouviu bem. Eu repeti pausadamente, enfatizando as palavras mais significativas.

Então reparei, maravilhada, como ela ia escrevendo, com tinta preta, no questionário oficial.

- "Posso perguntar", disse-me ela com novo interesse, "o que faz exatamente nesse campo?"

Calmamente, sem qualquer traço de agitação na voz, ouvi-me a responder:

- "Tenho um programa permanente de pesquisa (qualquer mãe o tem), em laboratório e no terreno (normalmente eu teria dito dentro e fora de casa). Trabalho para os meus Mestres (toda a família), e já passei quatro provas (todas meninas). Claro que o trabalho é um dos mais exigentes da área das humanidades (alguma mulher discorda???) e frequentemente trabalho 14 horas por dia (para não dizer 24...).

Houve um crescente tom de respeito na voz da funcionária que acabou de preencher o formulário, se levantou, e pessoalmente me abriu a porta.

Quando cheguei a casa, com o troféu da minha nova carreira erguido, fui cumprimentada pelas minhas assistentes de laboratório - de 13, 7 e 3 anos. Do andar de cima, pude ouvir a minha nova modelo experimental (uma bebé de seis meses) do programa de desenvolvimento infantil, testando uma nova tonalidade da voz.

Senti-me triunfante! Tinha conseguido derrotar a burocracia! E fiquei no registo do departamento oficial como alguém mais diferenciado e indispensável à humanidade do que "uma simples mãe"!

Maternidade... Que carreira gloriosa! Especialmente quando se tem um título na porta. Assim deviam fazer as avós: "Associada Sénior de Pesquisa no Terreno para o Desenvolvimento Infantil e de Relações Humanas" e as bisavós: "Executiva-associada Sénior de Pesquisa". Eu acho!!! E também acho que para as tias podia ser "Assistentes associadas de Pesquisa".



SERIA MAIS FÁCIL...

Seria tão fácil Senhor,
abandonar a luta por um mundo melhor...
Este mundo que não pára de nascer!
Seria tão fácil
renunciar às reuniões extenuantes,
às discussões,
às exposições,
a essas incontáveis acções e esses compromissos
ditos indispensáveis,
os quais, em certas noites de fadiga extrema,
duvido seriamente
que sirvam meus irmãos.
Seria tão fácil
ouvir estas vozes que me envolvem
e que se dizem sábias, amigáveis,
até mesmo afectuosas,
vozes que se me dirigem assim:
«estás a precipitar-te»
<< Lutas em vão>>
«passas ao lado do essencial».
Vozes que murmuram insidiosamente
nas minhas costas
«ele gosta disto»
«está-lhe no sangue»
«não pode passar sem isso».
Seria tão fácil
ceder à falta de coragem
e vesti-la de boas e pias intenções,
como a dos deveres esquecidos
e das crises de fé.
Seria tão fácil
ficar em casa
ter de novo os serões livres
e os fim-de-semana disponíveis
e o sorriso das crianças
e os braços da namorada.
Seria tão fácil sentar-me
e curar as feridas após as duras batalhas,
repousar as pernas,
os braços, a cabeça
e o meu coração fatigados,
e acolher a paz longe do campo de combate,
e escutar , enfim, o silêncio,
no qual - segundo dizem -
falas aos Teus fiéis.
Seria mais fácil, Senhor,
ficar à margem e não sujar as mãos,
ver os outros baterem-se e debaterem-se
aconselhá-los e lastimá-los,
julgá-los... e rezar por eles,
Seria mais fácil...





PALAVRAS

Reivindicar espírito positivo, não é nada: é preciso adoptar um espírito aberto, de afirmação, abrir os olhos sobre um mundo que não é tudo negro nem branco, mas repleto de múltiplas cores.

Para treinar, faça este exercício: meta as palavras sobre os seus medos e os sentimentos negativos que por vezes vos preocupam. De seguida, tente definir as palavras e volte a ver o seu lado positivo. Vai ver que é possível!

MORTE: O nosso fim é também o que dá grandeza e sentido a nossa vida. Tudo o que criamos de bom, de verdade, nós fazemo-lo dentro de limites (quadros, jardins, móveis, discursos...). O homem tem limites, e é a esse preço que ele pode fazer a sua obra de arte que é a vida.

ESPERA: É necessário e preferível ao super prazer. Saber esperar é próprio do sábio que sabe esperar para obter o que deseja. Nada se consegue sem que se ultrapassa alguns obstáculos e sem mais tarde se visualizar o fim. Aprenda a estar atento e a apreciar o melhor que vos é oferecido.

VAZIO: Se o vazio não existisse, nada seria, porque é preciso um lugar onde se descarregue o negativo. Tudo o que existe está num lugar que lhe é reservado. Encontre o seu lugar e não tenha medo dos momentos vazios que a vida lhe pode oferecer.

ESQUECER: Se se lembrar de tudo, é como se nunca tivesse feito a digestão. Se comessemos e não eliminássemos o que não interessa, a nossa saúde correria perigo. Esquecer é uma função necessária para que a sua vida seja equilibrada e saudável.

IGNORÂNCIA: Ignorar é darmos a nós próprios uma oportunidade de conhecer e aprender, sem ter preconceitos ou ter ideias preconcebidas. Não se deve confundir ignorância com estupidez: o ignorante sabe que nada sabe, enquanto que o estúpido não sabe nada e pensa que sabe.

DEFEITOS: Porquê nós complexamos com os nossos defeitos? É um sinal que faz sobressair uma pele macia e branca, não é? É uma boca muito grande que atrai os beijos, não é? É um peito pequeno que atrai carícias, não é? A beleza perfeita é cansativa. Tem que existir um pequeno defeito para que ela se torne mais interessante, mais complexa, e mais atraente.

Pense noutras palavras e noutros defeitos, e encontre o seu significado positivo.

AMIGOS

(Essas pessoas tão necessárias)


Há pessoas que com
uma só palavra
despertam ilusões
e roseirais;
que com um mero sorriso nos olhos
nos convidam a viajar
por outras terras,
nos dão a conhecer toda a
magia do mundo.
Há pessoas que com
Um mero toque
Quebram a solidão,
põem a mesa, servem um banquete
e colocam grinaldas;
que com uma simples viola
fazem uma sinfonia caseira
Há pessoas a quem basta
Abrir a boca
Para tocar nos confins da alma,
Alimentar uma flor,
Inventar sonhos,
Fazer cantar o vinho nas pipas,
Como se fossem a coisa mais simples do mundo.
E assim vamos de braço dado
Com a vida,
Desterrando uma morte solitária,
Pois sabemos que ao virar da esquina
Há pessoas assim,
Tão necessárias.

EU OS AMEI

Quando meus filhos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, eu hei de dizer-lhes:

Eu os amei o suficiente para ter perguntado aonde vão, com quem vão e a que horas regressarão. Eu os amei o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com que vocês soubessem que aquele novo amigo não era boa companhia.

Eu os amei o suficiente para os fazer pagar as balas que tiraram do supermercado e dizer ao dono: “Nós pegamos isto ontem e queremos pagar”.





Eu os amei o suficiente para ter ficado em pé junto de vocês, por duas horas, enquanto limpavam o seu quarto, tarefa que eu teria feito em 15 minutos.

Eu os amei o suficiente para os deixar assumir a responsabilidade das suas ações, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiam o coração.

Mais do que tudo: Eu os amei o suficiente para dizer-lhes "não", quando eu sabia que vocês poderiam me odiar por isso, e em alguns momentos até me odiaram.

Essas eram as mais difícieis batalhas de todas.

Estamos contentes, vencemos! Porque, no final, vocês venceram também!E, em qualquer dia, quando meus netos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e as mães, quando eles lhes perguntarem se seus pais eram maus, meus filhos vão lhes dizer: "Sim, nossos pais eram maus.Eram os pais mais malvados do mundo".As outras crianças comiam doces no café, e nós tínhamos de comer pão, frutas e vitaminas. As outras crianças bebiam refrigerante e comiam batatas fritas e sorvete no almoço, e nós tínhamos que comer arroz, feijão, carne e legumes.

E eles nos obrigavam a jantar à mesa, bem diferente dos outros pais que deixavam seus filhos comerem vendo televisão. Eles insistiam em saber onde estávamos à toda hora. Era quase uma prisão.

Mamãe tinha que saber quem eram nossos amigos e o que nós fazíamos com eles. Papai insistia para que lhe disséssemos com quem iríamos sair, mesmo que demorássemos apenas uma hora ou menos.Nós tínhamos vergonha de admitir, mas eles "violavam as leis do trabalho infantil". Nós tínhamos de tirar a louça da mesa, arrumar nossas bagunças, esvaziar o lixo e fazer todo esse tipo de trabalho que achávamos cruel.

Eu acho que eles nem dormiam à noite, pensando em coisas para nos mandar fazer. Eles insistiam conosco para que disséssemos sempre a verdade e apenas a verdade. E, quando éramos adolescentes, eles conseguiam até ler os nossos pensamentos.A nossa vida era mesmo chata. Enquanto todos podiam voltar tarde da noite com 12 anos, tivemos de esperar pelos 16 para chegar um pouco mais tarde.

O papai, aquele chato, levantava para saber se a festa foi boa só para ver como estávamos ao voltar.Por causa de nossos pais, nós perdemos imensas experiências na adolescência: nenhum de nós esteve envolvido com drogas, em roubo, em atos de vandalismo, em violação de propriedade, nem fomos presos por nenhum crime. Foi tudo por causa deles. Agora que já somos adultos, honestos e educados, estamos fazendo de tudo para sermos "PAIS MAUS", como os nossos foram.